domingo, 26 de maio de 2013

Elementos da Narrativa

Como analisar narrativas

Toda narrativa se estrutura sobre cinco elementos:  fatos; personagens; tempo; lugar e  narrador.
VEROSSIMILHANÇA - É a lógica interna do enredo, que o torna verdadeiro para o leitor é, pois, a essência do texto de ficção.
ENREDO
Estrutura clássica:
-> LINEAR: apresentação, conflito, clímax e desfecho.
Estrutura moderna:
-> NÃO-LINEAR: não se apresenta mais necessariamente na ordem cronológica.

PARTES DO ENREDO

Para se entender a organização dos fatos no enredo não basta perceber que toda história tem começo, meio e fim; é preciso compreender o elemento estruturador : o conflito.

O conflito possibilita ao leitor-ouvinte criar expectativa frente aos fatos do enredo.
Conflito é qualquer componente da história (personagens, fatos, ambiente, idéias, emoções) que se opõe a outro, criando uma tensão que organiza os fatos da história e prende a atenção do leitor.


Entre personagens;
Personagens e ambiente
Morais;
Religiosos;
Econômicos e psicológicos.


O conflito, via de regra, determina as partes do enredo



Exposição: (ou introdução ou  apresentação);
 Complicação: (ou desenvolvimento);
 Clímax;
 Desfecho: (desenlace ou conclusão).



PERSONAGENS
Classificação


Protagonista (herói ou anti-herói);
Antagonista;
Personagens secundários



Caracterização
Personagens planos (reconhecido por características típicas, invariáveis  ou caricatura);
Personagens redondos.
TEMPO
Os fatos de um enredo estão ligados ao tempo em vários níveis:
Época em que se passa a história; 
 Duração da história (Os contos de um modo geral apresentam uma duração curta em relação aos romances, nos quais o transcurso do tempo é mais dilatado.)
Cronológico;
Psicológico;
Flashback.

ESPAÇO
O lugar onde se passa a ação numa narrativa.

AMBIENTE
            É o espaço carregado de características socioeconômicas, morais psicológicas, em que vivem os personagens.

NARRADOR
Observador– 3ª pessoa;
Observador onisciente e onipresente;
Personagem – 1ª pessoa
Atenção: narrador NÃO é  autor.

TEMA – ASSUNTO – MENSAGEM

Tema - é a ideia em torno da qual se desenvolve a história;
Assunto - é a concretização do tema;
Mensagem - é um pensamento ou conclusão que se pode depreender da história lida ou ouvida.

Tipos de discursos na narrativa

Direto
“Estirado por sobre a mesa, o administrador gritava:
-          Você já esteve no Alentejo?”
QUEIROZ, Eça de. A ilustre casa de Ramires. Rio de Janeiro, Ed. Ouro, 1978. p. 43.)

Indireto

“(...) O outro objetou-lhe que por aqui só havia febres e mosquitos; o major contestou-lhe com estatísticas e até provou exuberantemente que o Amazonas tinha um dos melhores climas da terra. Era um clima caluniado pelos viciosos que de lá vinham doentes...”
(BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo, Ática, 1983 p. 23.)

Indireto Livre

“Era bruto, sim Senhor, nunca havia aprendido, não sabia explicar-se Estava preso por isso? Como era? Então mete-se um homem na cadeia porque ele não sabe falar direito? Que mal fazia a brutalidade dele? Vivia trabalhando como um escravo. Desentupia bebedouro, consertava as cercas, curava os animais — aproveitava um casco de fazenda sem valor. Tudo em ordem, podiam ver. Tinha culpa de ser bruto? Quem tinha culpa?”
 (RAMOS, Graciliano Vidas secas. Rio de Janeiro, Record, 1982. p. 35-6.)

Atividade

Vamos tomar como base o texto a seguir para sistematizar os estudos sobre a estrutura da narrativa. Analise o conto a seguir, com base nos estudos sobre os elementos da narrativa (narrador,personagens, partes do enredo, tempo...)

Leia com atenção:

       1º p.         Cheguei em casa carregando a pasta cheia de papéis, relatórios, estudos, pesquisas, propostas, contratos. Minha mulher, jogando paciência na cama, um copo de uísque na mesa de cabeceira, disse, sem tirar os olhos das cartas, você está com um ar cansado. Os sons da casa: minha filha no quarto dela treinando empostação de voz, a música quadrafônica do quarto do meu filho. Você não vai largar essa mala? perguntou minha mulher, tira essa roupa, bebe um uisquinho, você precisa aprender a relaxar.
       2° p.         Fui para a biblioteca, o lugar da casa onde gostava de ficar isolado e como sempre não fiz nada. Abri o volume de pesquisas sobre a mesa, não via as letras e números, eu esperava apenas. Você não pára de trabalhar, aposto que os teus sócios não trabalham nem a metade e ganham a mesma coisa, entrou a minha mulher na sala com o copo na mão, já posso mandar servir o jantar?
       3° p.         A copeira servia à francesa, meus filhos tinham crescido, eu e minha mulher estávamos gordos. E aquele vinho que você gosta, ela estalou a língua com prazer. Meu filho me pediu dinheiro quando estávamos no cafezinho, minha filha me pediu dinheiro na hora do licor. Minha mulher na da pediu, nós tínhamos conta bancária conjunta.
       4º p.         Vamos dar uma volta de carro? convidei. Eu sabia que ela não ia, era hora da novela. Não sei que graça você acha em passear de carro todas as noites, também aquele carro custou uma fortuna, tem que ser usado, eu é que cada vez me apego menos aos bens materiais, minha mulher respondeu.
       5° p.         Os carros dos meninos bloqueavam a porta da garagem, impedindo que eu tirasse o meu carro. Tirei os carros dos dois, botei na rua, tirei o meu, botei na rua, coloquei os dois carros novamente na garagem, fechei a porta, essas manobras todas me deixaram levemente irritado, mas ao ver os pára-choques salientes do meu carro, o reforço especial duplo de aço cromado, senti o coração bater apressado de euforia. Enfiei a chave na ignição, era um motor poderoso que gerava a sua força em silêncio, escondido no capô aerodinâmico. Saí, como sempre sem saber para onde ir, tinha que ser uma rua deserta, nesta cidade que tem mais gente do que moscas. Na Avenida Brasil, ali não po dia ser. muito movimento. Cheguei numa rua mal iluminanda, cheia de árvores escuras, o lugar ideal Homem ou mulher? realmente não fazia grande diferença, mas não aparecia ninguém em condições comecei a ficar tenso, isso sempre acontecia, eu até gostava o alivio era maior. Então vi a mulher, podia ser ela, ainda que mulher fosse menos emocionante, por ser mais fácil. Ela caminhava apressadamente, carregando um embrulho de papel ordinário, coisas de padaria ou de quitanda, estava de saia e blusa, andava depressa, havia árvores na calçada, de vinte em vinte metros, um interessante problema a exigir uma grande do se de perícia. Apaguei as luzes do carro e acelerei. Ela só percebeu que eu ia para cima dela quando ouviu o som da borracha dos pneus batendo no meio-fio. Peguei a mulher acima dos Joelhos, bem no meio das duas pernas, um pouco mais sobre a esquerda um golpe perfeito, ouvi o barulho do impacto partindo os dois ossões dei uma guinada rápida para a esquerda passei como um foguete rente a uma das árvores e deslizei com os pneus cantando de volta para o asfalto. Motor bom, o meu, ia de zero a cem quilômetros em onze segundos Ainda deu para ver que o corpo todo desengonçado da mulher havia ido parar, colorido de sangue, em cima de um muro, desses baixinhos de casa de Subúrbio.
6.° p. Examinei o carro na garagem. Corri orgulhosamente a mão de leve pelos pára-lamas, os Pára-choques sem marca. Poucas pessoas, no mundo inteiro, igualavam a minha habilidade no uso daquelas máquinas.
7.° p. A família estava vendo televisão. Deu a sua Voltinha, agora está mais calmo? perguntou minha mulher, deitada no sofá, olhando fíxamente o vídeo. Vou dormir, boa noite para todos, respondi, amanhã vou ter um dia terrível na companhia.


(FONSECA Rubem Passeio noturno In:________Feliz Ano Novo. Rio de Janeiro, Artenova, 1975. Parte i, p. 49-50.)

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