Como analisar narrativas
Toda
narrativa se estrutura sobre cinco elementos: fatos; personagens; tempo; lugar e narrador.
VEROSSIMILHANÇA
- É a lógica interna do enredo, que o
torna verdadeiro para o leitor é, pois, a essência do texto de ficção.
ENREDO
Estrutura clássica:
-> LINEAR: apresentação,
conflito, clímax e desfecho.
Estrutura moderna:
-> NÃO-LINEAR: não se apresenta mais
necessariamente na ordem cronológica.
PARTES DO ENREDO
Para se entender a
organização dos fatos no enredo não basta perceber que toda história tem
começo, meio e fim; é preciso compreender o elemento estruturador : o
conflito.
O conflito possibilita
ao leitor-ouvinte criar expectativa frente aos fatos do enredo.
Conflito é
qualquer componente da história (personagens, fatos, ambiente, idéias, emoções)
que se opõe a outro, criando uma tensão que organiza os fatos da história e
prende a atenção do leitor.
v
Entre
personagens;
v
Personagens e
ambiente
v
Morais;
v
Religiosos;
v
Econômicos e
psicológicos.
O conflito, via de regra, determina
as partes do enredo
v
Exposição: (ou introdução ou
apresentação);
v
Complicação: (ou desenvolvimento);
v
Clímax;
v
Desfecho: (desenlace ou conclusão).
PERSONAGENS
Classificação
v
Protagonista
(herói ou anti-herói);
v
Antagonista;
v
Personagens
secundários
Caracterização
v
Personagens
planos (reconhecido por características típicas, invariáveis ou caricatura);
v
Personagens
redondos.
TEMPO
Os fatos de um enredo estão
ligados ao tempo em vários níveis:
v
Época em que
se passa a história;
v
Duração da história (Os contos de um modo geral apresentam uma duração
curta em relação aos romances, nos quais o transcurso do tempo é mais
dilatado.)
v
Cronológico;
v
Psicológico;
v
Flashback.
ESPAÇO
O lugar onde se passa a ação
numa narrativa.
AMBIENTE
É o espaço carregado de características socioeconômicas,
morais psicológicas, em que vivem os personagens.
NARRADOR
v
Observador– 3ª
pessoa;
v
Observador
onisciente e onipresente;
v
Personagem – 1ª
pessoa
Atenção: narrador NÃO é autor.
TEMA – ASSUNTO – MENSAGEM
v
Tema - é a ideia em torno da qual se desenvolve a
história;
v
Assunto - é a concretização do tema;
v
Mensagem - é um pensamento ou conclusão que se pode depreender
da história lida ou ouvida.
Tipos de discursos na
narrativa
Direto
“Estirado por sobre a mesa, o
administrador gritava:
-
Você já esteve no
Alentejo?”
QUEIROZ, Eça de. A ilustre casa de Ramires. Rio de Janeiro, Ed.
Ouro, 1978. p. 43.)
Indireto
“(...)
O outro objetou-lhe que por aqui só havia febres e mosquitos; o major
contestou-lhe com estatísticas e até provou exuberantemente que o Amazonas
tinha um dos melhores climas da terra. Era um clima caluniado pelos viciosos
que de lá vinham doentes...”
(BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo, Ática,
1983 p. 23.)
Indireto Livre
“Era
bruto, sim Senhor, nunca havia aprendido, não sabia explicar-se Estava preso
por isso? Como era? Então mete-se um homem na cadeia porque ele não sabe falar
direito? Que mal fazia a brutalidade dele? Vivia trabalhando como um escravo.
Desentupia bebedouro, consertava as cercas, curava os animais — aproveitava um
casco de fazenda sem valor. Tudo em ordem, podiam ver. Tinha culpa de ser
bruto? Quem tinha culpa?”
(RAMOS, Graciliano Vidas
secas. Rio de Janeiro, Record, 1982. p. 35-6.)
Atividade
Vamos tomar como base o texto a seguir para sistematizar
os estudos sobre a estrutura da narrativa. Analise o conto a seguir, com base
nos estudos sobre os elementos da narrativa (narrador,personagens, partes do
enredo, tempo...)
Leia com atenção:
1º p. Cheguei
em casa carregando a pasta cheia de papéis, relatórios, estudos, pesquisas,
propostas, contratos. Minha mulher, jogando paciência na cama, um copo de
uísque na mesa de cabeceira, disse, sem tirar os olhos das cartas, você está
com um ar cansado. Os sons da casa: minha filha no quarto dela treinando
empostação de voz, a música quadrafônica do quarto do meu filho. Você não vai
largar essa mala? perguntou minha mulher, tira essa roupa, bebe um uisquinho,
você precisa aprender a relaxar.
2° p. Fui para a biblioteca, o lugar da casa
onde gostava de ficar isolado e como sempre não fiz nada. Abri o volume de
pesquisas sobre a mesa, não via as letras e números, eu esperava apenas. Você
não pára de trabalhar, aposto que os teus sócios não trabalham nem a metade e
ganham a mesma coisa, entrou a minha mulher na sala com o copo na mão, já posso
mandar servir o jantar?
3° p. A copeira servia à francesa, meus filhos
tinham crescido, eu e minha mulher estávamos gordos. E aquele vinho que você
gosta, ela estalou a língua com prazer. Meu filho me pediu dinheiro quando
estávamos no cafezinho, minha filha me pediu dinheiro na hora do licor. Minha
mulher na da pediu, nós tínhamos conta bancária conjunta.
4º p. Vamos dar uma volta de carro?
convidei. Eu sabia que ela não ia, era hora da novela. Não sei que graça você
acha em passear de carro todas as noites, também aquele carro custou uma
fortuna, tem que ser usado, eu é que cada vez me apego menos aos bens
materiais, minha mulher respondeu.
5° p. Os carros dos meninos bloqueavam a porta
da garagem, impedindo que eu tirasse o meu carro. Tirei os carros dos dois,
botei na rua, tirei o meu, botei na rua, coloquei os dois carros novamente na
garagem, fechei a porta, essas manobras todas me deixaram levemente irritado,
mas ao ver os pára-choques salientes do meu carro, o reforço especial duplo de
aço cromado, senti o coração bater apressado de euforia. Enfiei a chave na ignição,
era um motor poderoso que gerava a sua força em silêncio, escondido no capô
aerodinâmico. Saí, como sempre sem saber para onde ir, tinha que ser uma rua
deserta, nesta cidade que tem mais gente do que moscas. Na Avenida Brasil, ali
não po dia ser. muito movimento. Cheguei numa rua mal iluminanda, cheia de
árvores escuras, o lugar ideal Homem ou mulher? realmente não fazia grande
diferença, mas não aparecia ninguém em condições comecei a ficar tenso, isso
sempre acontecia, eu até gostava o alivio era maior. Então vi a mulher, podia
ser ela, ainda que mulher fosse menos emocionante, por ser mais fácil. Ela
caminhava apressadamente, carregando um embrulho de papel ordinário, coisas de
padaria ou de quitanda, estava de saia e blusa, andava depressa, havia árvores
na calçada, de vinte em vinte metros, um interessante problema a exigir uma
grande do se de perícia. Apaguei as luzes do carro e acelerei. Ela só percebeu
que eu ia para cima dela quando ouviu o som da borracha dos pneus batendo no
meio-fio. Peguei a mulher acima dos Joelhos, bem no meio das duas pernas, um
pouco mais sobre a esquerda um golpe perfeito, ouvi o barulho do impacto
partindo os dois ossões dei uma guinada rápida para a esquerda passei como um
foguete rente a uma das árvores e deslizei com os pneus cantando de volta para
o asfalto. Motor bom, o meu, ia de zero a cem quilômetros em onze segundos
Ainda deu para ver que o corpo todo desengonçado da mulher havia ido parar,
colorido de sangue, em cima de um muro, desses baixinhos de casa de Subúrbio.
6.° p. Examinei o carro na garagem. Corri
orgulhosamente a mão de leve pelos pára-lamas, os Pára-choques sem marca.
Poucas pessoas, no mundo inteiro, igualavam a minha habilidade no uso daquelas
máquinas.
7.° p. A família estava vendo televisão. Deu a sua
Voltinha, agora está mais calmo? perguntou minha mulher, deitada no sofá,
olhando fíxamente o vídeo. Vou dormir, boa noite para todos, respondi, amanhã
vou ter um dia terrível na companhia.
(FONSECA Rubem Passeio noturno In:________Feliz Ano Novo. Rio de Janeiro,
Artenova, 1975. Parte i, p. 49-50.)