segunda-feira, 15 de julho de 2013

As carreiras mais promissoras para os próximos dez anos
LECTICIA MAGGI - MERCADO DE TRABALHO - REVISTA VEJA - 14/07/2013 - SÃO PAULO, SP


Na semana passada, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou estudo apontando as carreiras universitárias e técnicas que registraram maior expansão no Brasil entre 2009 e 2012. Ficou a dúvida: quais terão o melhor desempenho no futuro? A pedido de VEJA.com, um time de especialistas em mercado de trabalho da Universidade de São Paulo (USP), Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ipea e de empresas de recrutamento e seleção respondeu à questão. Para eles, as profissões mais promissoras para os próximos dez anos fazem parte de quatro grandes áreas da economia que apresentam boas perspectivas de crescimento. São elas: saúde, educação, tecnologia da informação e comunicação (TIC) e engenharia.

A criação de vagas nessas áreas será, é claro, influenciada pelo desempenho da economia — cujo ritmo, aliás, está longe do desejado. `A taxa de desemprego nacional, que foi de 5,5% em 2012, pode chegar aos 6% em 2013. As perspectivas de emprego para 2013-14, portanto, não são tão boas como no passado recente`, afirma José Pastore, professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP.

Ainda assim, para as quatro áreas citadas, o prognóstico é positivo. Na contramão da indústria, o setor de serviços — no qual estão inseridas saúde e educação — apresenta boas perspectivas e está menos exposto a oscilações econômicas. `A área industrial é muito vulnerável à demanda externa: cerca de 20% de tudo o que produzimos é destinado ao exterior`, diz Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultoria.

A FGV têm números a respeito das perspectivas a curto prazo, colhidos entre as empresas dos setores de indústria e de serviços. Enquanto o Índice de Confiança de Serviços (ICS) estabilizou em 119,4 pontos em junho, o congênere da indústria (ICI) caiu, atingindo 103,8 pontos (valores superiores a 100 expressam otimismo). `Há uma demanda forte por serviços de saúde e educação, mesmo quando o cenário econômico não é favorável`, afirma Paulo Meyer, pesquisador do Ipea.

Educação e saúde devem colher ainda frutos da ascensão da chamada classe C — que, na definição da FGV, é formada por famílias com renda entre 1.734 e 7.475 reais. Estudo da instituição mostra que 40 milhões de pessoas entraram nesse grupo entre 2003 e 2011, fazendo-o saltar de 65,9 milhões para 105,5 milhões de brasileiros. `É mais gente, com mais dinheiro. E essas pessoas certamente demandarão serviços de saúde e educação. Exemplo disso são os jovens que buscam qualificação técnica ou universitária, embora seus pais possuam pouca ou nenhuma formação acadêmica`, diz Eduardo Zylberstajn, professor da FGV.

Tecnologia da informação e comunicação (TIC) e engenharia têm outras razões para colher bons resultados nos próximos anos. No primeiro caso, especialistas apontam a crescente demanda por tecnologia em todos os setores da economia — de indústrias a hospitais, de escolas ao comércio. No caso de engenharia, o impulso deve vir de investimentos em setores como o petrolífero e logística.

Quatro áreas profissionais mais promissoras

Saúde

Especialistas são unânimes em afirmar que as carreiras da área da saúde devem registrar aumento significativo do número de vagas nos próximos anos. A principal razão disso é a melhoria do padrão de vida da parcela mais pobre da população brasileira, que agora deve investir mais em produtos e serviços ligados ao bem-estar.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida do brasileiro atingiu 74,08 anos em 2011, aumento de quase quatro anos em relação a 2000. A mortalidade infantil, por sua vez, foi reduzida: passou de 19,4 óbitos para cada 1.000 nascidos vivos para 16,1.
Somam-se a esses fatores a redução da pobreza. Estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de 2012 aponta que, entre 2003 e 2011, cerca de 40 milhões de pessoas ascenderam socialmente. Isso fez com que o contingente da classe C — formada por famílias com rendimento entre 1.734 e 7.475 reais — saltasse de 65,9 milhões para 105,5 milhões de pessoas. A tendência deve se manter até 2014, e a previsão é que esse grupo reúna 118 milhões de brasileiros até lá.

Com mais dinheiro no bolso, essas pessoas devem gastar mais com a saúde. Isso é perceptível, por exemplo, no crescimento de 50%, entre 2003 e 2012, no número de beneficiários em planos privados de assistência médica, conforme dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Palavra dos especialistas:
`O setor de serviços, que inclui a área de saúde, se destacou nos últimos anos, em especial depois da crise de 2008. Isso fica evidente por dados preliminares do PIB brasileiro: enquanto a indústria avançou apenas 1,4% ao ano entre 2009 e 2012, os serviços cresceram 3% ao ano no mesmo período. E tudo indica que o setor vai continuar aquecido.`

Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultoria.

`Além da carência de profissionais em regiões periféricas, há déficit de especialistas com formação na área de saúde e também habilidade para a gestão de empreendimentos. De janeiro a junho deste ano, tivemos um crescimento de 20% na demanda por gestores de saúde frente ao mesmo período de 2012.`
Raphael Revert, gerente da área de saúde da Michael Page, empresa global de seleção e recrutamento

Profissões em alta:
Médicos, enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem, técnicos em próteses, imobilizações ortopédicas, odontologia, óptica e estética, entre outras.

Educação

A área de educação é outra que tem potencial para um crescimento expressivo na próxima década. Como ocorre na área de saúde, déficts passados combinados a maior investimento das famílias devem impulsionar o setor.
A taxa de atendimento escolar à população de 4 a 17 anos aumentou no passado recente, passando de 83,8%, em 2000, para 92%, em 2011. No entanto, o Brasil ainda possui um contingente de mais de três milhões de crianças e adolescentes fora da escola (dados da Pnad 2011). Incluí-los é o primeiro desafio. Para isso, além de políticas educacionais consistentes, o país vai precisar, é claro, de professores.

Os ensinos técnico e superior também devem impulsionar a área. O Censo da Educação Superior 2011, o último disponível, mostra que entre jovens de 18 a 24 anos apenas 17,8% já concluíram o ensino superior ou estão matriculados em algum curso de graduação. Há, portanto, uma lacuna educacional gigantesca a ser preenchida.

Com a ascensão da classe C — eram 65,9 milhões pessoas, em 2003, e passaram para 105,5 milhões, em 2011, segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) —, especialistas acreditam que a população vai investir mais na própria qualificação. Na lista dos cursos com provável crescimento, além de técnicos e de ensino superior, entram profissionalizantes, de especialização, informática e idiomas. Haverá necessidade também de supervisores, diretores e gestores de educação.

Palavra dos especialistas:

`O Brasil tem dificuldade de alavancar a qualidade da educação básica (níveis infantil, fundamental e médio) e precisa de mais e melhores professores. O problema, obviamente, vai ser como atraí-los para a carreira docente com um salário de 1.500 reais por mês. Ainda que a relação entre remuneração e qualidade do ensino não seja totalmente direta, o salário atual parece inviável. É preciso discutir a fundo essa questão.`

Eduardo Zylberstajn, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV)

`As instituições de ensino privadas têm o desafio de melhorar a qualidade de sua gestão. Em geral, os cargos gerenciais nessas organizações são ocupados por profissionais com grande conhecimento acadêmico. Há, no entanto, a necessidade de pessoas com experiência na gestão de produtos e com conhecimento de negócios. Pela falta de profissionais adequados, algumas instituições estão apelando para a contratação de especialistas na área de serviços ao consumidor (telecomunicação, energia e saúde).`
Fernando Andraus, diretor da Page Executive, empresa global de seleção e recrutamento

Profissões em alta:
Professores de todos os níveis educacionais (educação infantil, fundamental, média e superior), diretores e gestores.

Tecnologia da informação e comunicação (TIC)

A área de tecnologia da informação e comunicação (TIC) é talvez a maior aposta de economistas e consultores para a próxima década. Na avaliação deles, o setor deve crescer, com abertura de vagas, não importa muito qual seja o desempenho da economia nos próximos anos. Isso porque todos os setores da economia apresentam uma grande demanda pelos serviços da área e, portanto, por seus profissionais.

Em razão da informatização de seus sistemas, as organizações estão cada vez mais dependentes de desenvolvedores de software, analistas de segurança de redes e sistemas de informação. Acrescente-se a isso o fato de que não há trabalhadores capacitados em número suficiente.

Em março deste ano, a consultoria IDC divulgou o estudo Networking Skills Latin America, que estima que, em 2015, a procura por profissionais de TIC no Brasil excederá a oferta em pouco mais de 30%. A projeção é de uma lacuna de 117.200 trabalhadores especializados em redes e conectividade.

A Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) também realizou uma estimativa a partir do cruzamento de dados dos ministérios do Trabalho e da Educação. Foram avaliados sete estados (Bahia, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo) e também o Distrito Federal. O resultado: em 2014, para atender à demanda prevista, São Paulo precisará do triplo de profissionais de TIC.

Palavra dos especialistas:
`A atividade dos profissionais de TIC passou a integrar as demais áreas da economia. Contudo, o Brasil ainda está atrasado na formação desses profissionais, o que gera escassez de talentos. É preciso melhorar a formação deles já que a perspectiva é que o mercado continue muito `comprador`.`

José Pastore, professor da faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP)

`Há dois campos em TIC que merecem destaque: aplicações para smartphones e computação em nuvem. Nessas, os salários dos melhores especialistas chega a 12.000 reais.`Diego Rondon, gerente de TIC da Page Personnel, empresa de seleção e recrutamento

`Terá destaque no mercado o profissional que aliar conhecimentos de tecnologia e de negócios e que, ao mesmo tempo, seja capaz de demonstrar às empresas as vantagens da implementação de determinado programa.`
Juliano Ballarotti, diretor da Hays, empresa de seleção e recrutamento

Profissões em alta:
Especialistas no desenvolvimento de aplicativos para dispositivos móveis, computação em nuvem e qualidade de software, analistas de tecnologia da informação e sistemas, desenvolvedores de software e programadores, entre outros.

Engenharia

Entre as áreas profissionais apontadas por especialistas como as mais promissoras para os próximos anos, a de engenharia é que está mais atrelada ao desempenho econômico do país. Isso quer dizer que um baixo crescimento — com diminuição de investimentos em infraestrutura — terá impacto maior na criação de vagas neste setor.

Ainda assim, os prognósticos são animadores, principalmente para os profissionais das engenharias química, elétrica e de petróleo. A razão do otimismo são os futuros investimentos do país na exploração de petróleo e gás: no último dia 9, foi publicada a prévia do primeiro edital de licitação para exploração de petróleo na camada pré-sal, referente a área de Libra, na Bacia de Santos.

Não vão faltar vagas também aos especialistas em engenharia de energia, principalmente aos que atuarem na busca de fontes renováveis, e engenharia de segurança do trabalho. `As empresas estão mais preocupadas com a segurança de seus funcionários, pois, além de diminuir o risco de eventuais processos trabalhistas, passam ao mercado uma imagem positiva, de que têm responsabilidade`, afirma Paulo Dias, gerente da divisão de Engenharia da Page Personnel, empresa de seleção e recrutamento.
Vale destaque ainda a área de engenharia de operações, onde projeta-se uma expansão maior do número de vagas no médio prazo — daqui a cerca de cinco anos. Isso porque, com parte das obras de infraestrutura no país concluídas, espera-se a ampliação de postos de trabalho ligados ao setor de logística das empresas.

A área de engenharia civil — sétimo lugar na lista do Ipea das dez carreiras de nível superior que registraram maior expansão de vagas entre 2009 e 2012 — também apresenta alto potencial de crescimento. Apenas para zerar o déficit habitacional do país, por exemplo, seriam necessárias 5,4 milhões de habitações, segundo estimativa do Instituto de Pesquisa Economia Aplicada (Ipea). No entanto, vale lembrar: entre as engenharias, esta é a mais sensível às oscilações econômicas.

Palavra dos especialistas:
`Na década passada, a economia puxou a demanda por engenheiros civis e milhares foram contratados, com altos salários. No entanto, como a economia não está tão aquecida, é possível que a profissão não avance muito. Mas engenharia, em geral, é sempre uma ótima escolha: por conhecer a fundo a área de exatas, o profissional pode competir também por vagas com administradores e economistas e, não raro, levará vantagem. Ele não fica desemprego.`

Paulo Meyer, pesquisador do Ipea e um dos responsáveis pela publicação do Radar 27, estudo que mapeia as ocupações de nível técnico e superior com maior expansão de vagas no Brasil.

`Serão muito demandados engenheiros químicos, elétricos e de petróleo para ajudar no desenvolvimento de modelos de exploração de óleo e gás no país. Outra área em que projetamos crescimento é a de engenharia de operações. Hoje, com poucos portos e reduzida malha ferroviária e hidroviária, a atuação deste profissional é difícil. Mas, em cerca de cinco anos, com a melhoria que prevemos em infraestrutura, a atuação deles será valorizadíssima.`
Juliano Ballarotti, diretor da Hays, empresa global de seleção e recrutamento.

Profissões em alta:

Engenheiros elétrico, químico, de petróleo e de operações, além de engenheiros especialistas em segurança no trabalho.

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