Erros de redação
prejudicam
produção científica brasileira,
diz estudo
AGÊNCIA FAPESP - UOL EDUCAÇÃO - 18/07/2013 - SÃO
PAULO, SP
Os
pesquisadores brasileiros têm se esforçado para melhorar suas habilidades em
redação, mas ainda cometem erros ao escrever uma tese ou artigo, segundo Gilson
Volpato, especialista em redação e publicação científica.
Para
Volpato, professor do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências da
Universidade Estadual Paulista (Unesp), isso ocorre porque muitos pesquisadores
não dominam ainda conceitos básicos da redação científica.
`Temos
boas pesquisas no Brasil que, muitas vezes, são poucos citadas porque os
resultados são mal apresentados. Isso se deve a uma série de equívocos sobre
conceitos fundamentais na redação de um texto científico, que precisam ser
corrigidos`, disse Volpato, à Agência FAPESP.
De
acordo com o autor – que dá cursos sobre o tema e já auxiliou pesquisadores a
reescreverem mais de 250 artigos em humanas, exatas e biológicas –, um dos
conceitos relacionados à estrutura e apresentação dos textos utilizado de
maneira equivocada está na introdução.
É
comum, segundo ele, alguns pesquisadores erroneamente apenas discorrerem nessa
parte fundamental de um texto científico sobre a literatura científica que
leram, sem fundamentarem as bases e os objetivos da pesquisa.
`Esse
é um vício observado nas introduções de algumas teses e dissertações, onde se
inclui a chamada `revisão da literatura`, por exemplo, e tenta-se replicar essa
mesma estrutura de texto nos artigos submetidos às revistas científicas. Porém,
essa estrutura acaba não sendo publicada porque os artigos científicos
internacionais seguem a lógica científica que é adotada por todas as boas
revistas científicas no mundo e não se pode querer fazer algo diferente`, disse
Volpato.
Outro
conceito errado é sobre artigo de revisão científica. A ideia é que tal
trabalho contribua para o avanço do conhecimento, mas, de acordo com Volpato,
muitos artigos do tipo costumam apenas resumir as pesquisas em suas respectivas
áreas.
`Há
pesquisadores que coletam uma série de dados da literatura recente em suas
áreas, fazem um resumo de todo o material coletado e acham que fizeram um
artigo de revisão. Mas o artigo de revisão tem que avançar, tem que trazer
novas conclusões`, afirmou.
Reavaliação de conceitos
Volpato,
em parceria com mais cinco pesquisadores, acaba de lançar o Dicionário crítico
para redação científica, com o intuito de contribuir para corrigir e balizar
conceitos utilizados erroneamente por pesquisadores brasileiros.
O
livro reúne definições de 750 termos utilizados em várias áreas, relacionados à
publicação, redação, Filosofia da Ciência, Ética, Lógica, Administração,
Estatística, Metodologia, Biblioteconomia e Cientometria, entre outras.
Entre
os conceitos definidos pelos autores estão os de autoria, fator de impacto,
método lógico e metanálise.`O livro reúne conceitos úteis a cientistas de
qualquer área, que são definidos com clareza para nortear a construção de uma
ciência que seja de alto nível e que atenda aos padrões internacionais de
publicação`, afirmou Volpato.
Segundo
ele, a publicação leva o nome de dicionário crítico porque muitas definições
atuais utilizadas de forma corrente precisam ser reavaliadas. `O dicionário
apresenta definições mais ousadas e também faz críticas a alguns conceitos mais
tradicionais que já não fazem mais sentido no universo atual da ciência e da
redação científica`, disse.
De
acordo com Volpato, há poucos exemplos desse tipo de publicação, a maioria
voltada para áreas específicas, como o Critical Dictionary of Sociology e o
Critical Dictionary of Art, Image, Language and Culture.
A
ideia é que a publicação brasileira chegue a ter mais de 5 mil palavras nas
próximas edições. Para isso, já está sendo formada uma equipe com especialistas
em diversas áreas, e os autores estão solicitando sugestões de novos termos
para serem inseridos.
`As
pessoas podem sugerir termos ou fazer críticas aos conceitos já definidos, para
que possamos revê-los`, disse Volpato. Os interessados em dar sugestões devem
enviar e-mail para dcrc2013@gmail.com.
Os nomes dos autores das sugestões aceitas serão mencionados nas respectivas
edições nas quais suas contribuições forem publicadas.
Além
do novo dicionário, Volpato também é autor dos livros Método lógico para a
redação científica, Bases teóricas da redação científica, Publicação
científica, Administração da vida científica, Pérolas da redação científica,
Dicas para redação científica, Ciência: da filosofia à publicação e Estatística
sem dor!.
O
professor também divulga seu trabalho no site www.gilsonvolpato.com.br ,
que oferece artigos, dicas e reflexões sobre redação científica, educação e
ética na ciência. O site dá acesso a aulas on-line do curso `Bases teóricas
para redação científica`, apresentado por Volpato na Unesp