Qualificação do professor é o que mais influencia
bom desempenho de aluno
PRISCILLA BORGES
Para os pesquisadores,
não há dúvidas de que o papel do professor é determinante para o bom desempenho
escolar dos alunos. Embora outros fatores – como escolaridade dos pais;
infraestrutura escolar; acesso a materiais didáticos – influenciem a aprendizagem,
estudo mostra que a qualificação do professor e sua forma de contratação são os
quesitos que mais impactam no sucesso de um aluno.
Os resultados
identificados pela pesquisadora Raquel Rangel mostram que o País precisa
investir muito em formação dos professores e na valorização da carreira. Raquel
explica que considerou na pesquisa dados de provas do Sistema de Avaliação da
Educação Básica (Saeb) de estudantes do 5º ao 9º ano do ensino fundamental da
rede pública, aplicadas entre 1999 e 2003, e do questionário respondido por
professores destes alunos.
Raquel criou uma
escala, baseada na Teoria de Resposta ao Item , para comparar a evolução do
desempenho dos alunos em cada série avaliada ao longo desse período. Em sua
amostra, escolheu tratar dos dados apenas dos seis Estados com piores
indicadores à época: Rondônia, Pará, Pernambuco, Sergipe, Mato Grosso do Sul e
Goiás. Ao todo, os desempenhos de 1,2 mil alunos em português e matemática
foram avaliados e as respostas de 581 docentes.
“Fomos muito rigorosos
para medir esse impacto. Utilizamos um método estatístico que calculou o efeito
médio de desempenho dos alunos a cada ‘dose de qualidade do professor’.
Estatisticamente, o impacto da qualificação e da contratação por concurso
público foi muito maior do que a experiência e o capital cultural do professor,
a formação continuada, o uso de recursos pedagógicos, as estratégias de
avaliação”, conta.
Raquel é estudante do
doutorado em Demografia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional
(Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e realizou o estudo
como mestrado na Universidade de Stanford , nos Estados Unidos. Orientada pelo
professor Martin Carnoy, a pesquisadora comparou a situação brasileira à
norte-americana e aponta que as realidades são muito distintas.
Segundo Raquel, nos
Estados Unidos, como ter um diploma de ensino superior e de cursos de
pós-graduação ou especialização é natural entre a maioria dos docentes, as
discussões sobre “qualidade” do professor são bem diferentes. “Eles já avaliam
o domínio da disciplina, o conhecimento didático, as técnicas pedagógicas, a
motivação desse professor. O que queremos mostrar é que temos ainda problemas
básicos para resolver. Como a formação”, diz.
Matemática X Português
O argumento de Raquel encontra
força nos resultados de diferentes avaliações em larga escala feitas pelos
estudantes brasileiros. Nesta quarta-feira, por exemplo, um levantamento
realizado pela ONG Todos pela Educação mostrou que o desempenho dos alunos do
ensino médio na Prova Brasil de 2011 piorou. Apenas 10% deles aprende o
necessário em matemática e 29% em Língua Portuguesa.
“É importante ressaltar
que avaliei o desempenho de seis Estados, que os dados não são recentes, mas os
nossos problemas ainda são muitos e precários. Todos os indicadores de
desempenho mostram que temos muito o que alcançar, especialmente nas escolas
públicas”, pondera. Ela espera que os gestores se utilizem dessa constatação
para investir na formação dos professores e na criação de atratividades para a
carreira docente.
A diferença mais
significativa de desempenho dos estudantes submetidos a aulas de professores
com boa qualificação e contratados por concurso público ocorreu nas avaliações
de matemática. Raquel diz que isso mostra que, para ensinar bem a disciplina, a
formação do docente é ainda mais determinante, por uma necessidade da área. “O
que não quer dizer que não é preciso investir na formação dos professores de
português”, enfatiza.
Disponível:http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2013-03-08/qualificacao-do-professor-e-o-que-mais-influencia-bom-desempenho-de-aluno.html
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